Adeus, Sepultura. Muito obrigado!

No dia 31 de junho, a maior banda de metal do Brasil, Sepultura, se despediu dos fãs gaúchos com o show da tour “Celebrating Life Through Death”. O espetáculo aconteceu no auditório Araújo Vianna, com produção da Opus Entretinimento.
Esse foi o segundo show da tour, que também celebra os 40 anos de carreira do grupo, a passar por Porto Alegre. Em março de 2024 a banda já havia realizado um show na mesma casa de eventos. Como de costume, os fãs lotaram o local mais uma vez.
Passava das 21h30 quando o quarteto sobe ao palco já para executar a pedrada “Beneath the Remains”, seguida pela clássica “Inner Self”. Logo de cara, muitos fã abandonam seu lugares marcados para ocupar a frente do palco. Muito apropriado para o show em questão. A banda que começou sua trajetória calcada no Death Metal e Thrash Metal e passou a incorporar elementos de outras vertentes ao longo do anos, realmente não é um show de se assistir sentado na cadeira.
“Desperate Cry”, mais uma paulada das antigas é a próxima, com Andreas Kisser começando seu dedilhado na parte de cima do palco, ao lado da bateria do novato Greyson Nekrutman.
“Phantom Self” é a escolhida para representar o excelente “Machine Messiah”, de 2017. Ela abre espaço para “Attitude” mais um clássico da formação clássica da banda em seu disco de maior êxito, “Roots” de 1996. E em seguida é a vez de “Means To An End”, primeira da noite do mais recente trabalho de estúdio do grupo, o aclamado “Quadra”, de 2020.
Não podemos seguir sem destacar duas coisas: a primeira é o belíssimo trabalho de iluminação e de telão deste turnê. A experiência audiovisual que sem sente no show é excepcional. Uma banda coesa, com uma carreira sólida, apresentando suas melhores canções, acompanhadas de um trabalho visual impecável, pode sim ser classificada com um espetáculo completo.
O segundo ponto a se destacar são as forças dessas canções, seja elas dos primórdios, clássicos do auge midiático, ou as mais recentes. Todos sabemos o quanto custou para a banda se reinventar após a saída de Max, e mais tarde Igor. Mas esse show de despedida demonstra que a banda não precisa de apoiar apenas nos hinos da sua “era clássica”, mas que os singles de seus trabalhos mais recentes possuem força suficiente para brilharem por si. O que eu quero dizer é que não é um show de altos e baixos, onde o público curte os velhos hits e usa o tempo das novas músicas para comprar uma cerveja ou ir ao banheiro. Apesar da banda não ter recebido o mesmo apoio midiático e/ou publicitário que outrora, a banda seguiu compondo e lançando excelentes álbuns nas últimas duas décadas.
A prova disso é a próxima música do show, a pesadíssima “Kairos”, faixa que dá título ao disco de 2015. Ela é seguida por “The Treatment”, lançado no álbum “A-Lex”, de 2009. Após chega a vez da densa “Guardians of Earth”, com Andreas tocando violão em sua introdução. O guitarrista dá um show a parte, não só pela intro, mas também no lindo e melódico solo.
A noite segue com “Choke”, single do álbum “Against”, de 1998, responsável por apresentar ao mundo o então novo vocalista, Derrick Green. Faixa emblemática, que não poderia ficar de fora nos últimos concertos do grupo. Falando em estreias, a próxima remete ao início de Andreas na banda, trata-se de “Escape to the Void”, do disco “Schizophrenia” de 1987.
Num momento muito legal da noite, a banda excuta a linda peça “Kaiwoas” com convidados especial na percussão. A faixa baseada na cultura indígena é percussora na mistura de elementos tribais com o metal, que seria marca registrada da banda.
Voltando um pouquinho mais no passado, chega a vez de “Dead Embryonic Cells”, para delírio do público. E os fãs gaúchos fizeram bonito. Além de lotarem o Araújo Vianna, não deixaram de apoiar e gritar pela banda o tempo todo. Atitude retribuída pela banda que, nas vozes de Derrick e Andreas saúdam o público a agradecem a presente e o apoio de todos.
A próxima é “Agony of Defeat”, terceira da noite do álbum “Quadra”, pesada e cadenciada, nos brinda um dos melhores trabalhos vocais de Derrick, alternando sua voz entre o canto limpo e o gutural. Logo em seguida vem a arrasa quarteirão “Orgasmatron”, cover de lendária e saudosa banda Motorhead, que ganhou vida própria na versão do Sepultura.
O clássico “Troops of Doom” ganha seu espaço neste set alucinante. E os fãs que já deliravam com tudo que foi apresentado até aqui, vão a loucura com a intro de bateria de “Territory”, mais um hino do Chaos A.D, de 1993. O disco responsável por cravar a bandeira do Sepultura no mundo, ainda ganhou espaço nesta noite com a profética “Chaos A.D”. Devo confessar que essa é a minha música favorita da banda e o momento que eu mais esperava do show. Pelo que pude perceber em minha volta, com certeza, eu não era o único que pensava assim.
Nem deu tempo de respirar e a banda já dispara mais um clássico: “Arise”. Pesada e veloz, transfora o Araújo Vianna em um turbilhão de fluxo de energia em constante rotação.
A banda agradece e se despede. É lógico que ninguém iria embora antes do retorno do quarteto ao palco para o bis. Logo o quarteto retorna para ao gran finale com “Ratamahatta” e “Roots Bloody Roots”, fechando assim, a passagem da maior banda de Metal do Brasil, por terras gaúchas.
Com o perdão do palavrão, mas, caralho, como é bom viver na mesma época em que o Sepultura esteve em atividade. Eu não tinha idade para ver a formação clássica do grupo no palco, mas Andreas Kisser, Paulo Xisto, Derrick Green e Greyson Nekrutman estão em plena forma. Comemorando os 40 anos da banda em grande estilo, com um show espetacular musical e visualmente falando.
O novo baterista recebeu um missão absurda em cima da hora e não decepcionou. Derrick já está a mais na tempo como vocalista da banda do que Max. Com todo respeito que o fundador da banda mereça, mas Derrick já não pode ser contestado há décadas. Já Andreas é um show a parte. Guitarrista e compositor fantástico, é a cara da banda e merece todo reconhecimento como um dos maiores do mundo em seu instrumento. E cara, o que falar de Paulo?! Ele está ali desde o início, passou por todas as fases… encarou qualquer desafio que a banda precisou passar. É muito bom ver aquele “senhor” no palco. Discreto, mas eficiente. Com seus cabelos grisalhos longos novamente, agitando o tempo todo. Ele é responsável pelos graves de uma das bandas mais potentes do metal. Isso já é motivo para reverenciá-lo.
Se essa turnê se mostrar realmente como o último passo do Sepultura, com certeza, fará com que a banda saia de cena com a cabeça erguida e o sentimento de dever cumprido. A banda que colocou o Brasil no mapa da música pesada, de despede como surgiu…avassaladora!
Adeus, Sepultura. Muito obrigado!
Fotos:
Mary Up Fotos