Fundação Iberê apresenta primeira exposição individual do franco-palestino Tarik Kiswanson no Brasil

Até o final de dezembro será é realizada o Ano Cultural França-Brasil, acordo entre os governos dos dois países para a promoção de um conjunto de ações que celebram os 200 anos de suas relações diplomáticas, com atividades em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belém, Salvador, Recife, Fortaleza, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Campinas, São Luís, Teresina, João Pessoa e Macapá.
A Fundação Iberê é a única instituição no Rio Grande do Sul a integrar a programação oficial com a primeira exposição do artista Tarik Kiswanson no país. Com curadoria de Jean-Marc Prévost, a mostra reúne um conjunto de obras em escultura, desenho e vídeo, destacando uma prática multidisciplinar fundamentada em noções de transformação e memória.
Kiswanson nasceu em 1986, em uma pequena cidade da Suécia, filho de pais palestinos que foram exilados de Jerusalém, primeiro para Trípoli e Amã, antes de, finalmente, se estabelecerem em Halmstad. Após uma década em Londres, onde estudou arte, mudou-se para Paris, onde vive e trabalha desde 2010. Ele tem quatro nacionalidades e fala e escreve em cinco idiomas.
Há mais de uma década, o artista vem explorando noções de desenraizamento, metamorfose e memória por meio de uma prática interdisciplinar – escultura, desenho, cinema, som, intervenções espaciais e poesia. Um legado de deslocamento e transformação permeia suas obras e é indispensável tanto para sua forma quanto para os modos de percepção que produzem. Embora mantenha um vínculo com o íntimo e o pessoal, o trabalho aborda preocupações universais e histórias sociais e coletivas de ruptura, perda e regeneração. Sua obra pode ser entendida como uma cosmologia de famílias conceituais interligadas, cada uma explorando variações de temas como refração, multiplicação, desintegração, levitação e polifonia a partir de uma linguagem própria. “Sou um imigrante de segunda geração e minha prática é inevitavelmente moldada por noções de deslocamento e transformação”, afirma.
Nas vinte obras que serão apresentadas na Fundação Iberê, Tarik Kiswanson transita entre o figurativo e o abstrato em sua contínua exploração do corpo, da história e da memória. A leveza de sua produção contrasta com o peso das histórias presentes nos objetos que utiliza.
Os primeiros trabalhos são, em grande parte, um processamento profundamente pessoal da sua própria história familiar. Esse envolvimento é evidente nas esculturas intituladas Recall [Recordação] (2020-2025). As peças retangulares, apoiadas diretamente no chão e que lembram lápides translúcidas e borradas, falam tanto de lembrança quanto de perda. Através de sua presença etérea, quase assombrosa, elas convidam os espectadores a contemplar não apenas a narrativa pessoal de Kiswanson, mas também experiências coletivas mais amplas dentro de histórias diaspóricas. Ao esbater as fronteiras entre o pessoal e o comunitário, essas esculturas evocam um senso de história compartilhada e de identidade coletiva.
A exposição se inicia com o vídeo The Fall [A Queda] (2020), uma obra contemplativa que mostra um garoto caindo lentamente para trás em uma sala de aula vazia. Em um estado de levitação entre o equilíbrio e o colapso, esse momento suspenso – ao mesmo tempo íntimo e desconcertante – reflete uma noção recorrente na obra de Kiswanson: a da criança no limiar da adolescência.
Nos desenhos intitulados The Window [A Janela] (2020-2025), o espectador se depara com uma pequena figura infantil emergindo de um fundo nebuloso, com o braço e a palma da mão estendidos em um gesto que pode significar distanciamento ou busca. Emocional e distante, íntimo e minimalista, o artista permite que o público mergulhe em seu universo.
Nas esculturas levitantes intituladas Nest [Ninho] (2020-2023) e Cradle [Berço] (2020-2024), formas imaculadamente brancas, semelhantes a casulos, sugerem o surgimento iminente da vida — um nascimento ou renascimento, evocando os grandes ciclos da natureza, mas que também podem ser vistas como locais de refúgio e abrigo. Sua mera presença física sugere uma força inerente capaz de quebrar hierarquias e perturbar a ordem estabelecida.
Os desenhos do artista aparecem ao longo da mostra. Alguns retratam crianças pairando no limiar da visibilidade, enquanto outros surgem como formas ovais borradas, lembrando nuvens ou núcleos de energia. Construídos a partir de sucessivas camadas de carvão, os desenhos refletem a contínua investigação da artista sobre o corpo e seu lugar no mundo: sua transformação, sua dissolução, sua ausência e sua renovação. Ao mesmo tempo materiais e metafísicos, eles evocam o conceito de opacidade de Édouard Glissant – uma influência formadora para o artista desde seus primeiros anos como estudante.
“Embora enraizada na experiência pessoal, a arte de Kiswanson transcende o autobiográfico para se envolver com dinâmicas mais amplas de memória coletiva e transmissão cultural. Suas obras atuam como veículos de lembrança – formas que carregam traços tanto de trauma quanto de regeneração. Ao fazê-lo, refletem sobre a condição humana como algo moldado não pela estabilidade, mas por uma negociação contínua entre passado e presente, eu e outro, presença e ausência”, enfatiza Prévost.
Sobre o curador
Jean-Marc Prévost é historiador da arte e curador-chefe do Patrimônio Cultural. Ocupou cargos importantes em renomadas instituições culturais e é reconhecido por seu trabalho curatorial em arte contemporânea. Foi Diretor do Musée d’Art Contemporain de Rochechouart e do Carré d’Art – Musée d’Art Contemporain e liderou projetos globais, incluindo a exposição comemorativa do 10º aniversário do Prêmio Marcel Duchamp.
SERVIÇO
Exposição “Tarik Kiswanson – Fora do Tempo”
Curadoria: Jean-Marc Prévost (FR)
Onde: Fundação Iberê (Avenida Padre Cacique, 2000 – Cristal)
Abertura: 30 de agosto | Sábado | 14h
Visitação: até 1º de março de 2026 | Quinta a domingo, das 14h às 18h (última entrada) | Às quintas-feiras, a entrada é gratuita
Contato com a imprensa: Roberta Amaral
51 99431 94.29 | imprensa@iberecamargo.org.br
Site: iberecamargo.org.br
Instagram:@fundacaoibere
Fonte:
Roberta Amaral